quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

ALAYDE DA SILVA SILVEIRA
*30/03/1909†03/06/2007

Alayde da Silva Silveira nasceu em 30 de março de 1909, na cidade de Condeúba/BA, filha de José da Silveira Torres (Zeca) e Anna Amélia da Silva. Eram seus avós paternos: João José da Silveira e Rachel Augusta Torres e maternos, Jovino Arsenio da Silva e Adelia Carolina da Silva Torres.
 Irmãos consanguíneos: Maria, Deusdedith, Waldemar, Oflávio, Dalva, Enelzita, Alvair e Djalma Silveira Torres. Depois da viuvez Zeca Torres teve dois filhos: João (Nenzinho) e Raquel Torres.
Casou-se, com Jesuino José Alves, por escolha da mãe, com quem não queria, pois amava, ou achava que amava outro homem. Naquela época, o namoro era a distância e dependia do consentimento dos pais. O escolhido por ela, alegava a família, era descendente de escravos. Uma situação que os familiares não aceitavam por discriminação e preconceito, justificava Alayde.
Viveu uma experiência negativa no casamento e teve uma vida atribulada, apesar do seu desempenho de altivez. Não fora feliz no matrimônio. Ficou viúva e tinha pavor a homem para um possível segundo relacionamento, pois vivera um inferno aturando o marido, um alfaiate que tentou matá-la pela fúria alcoólica. Comentava que não tivera filhos, mas criou vários. A ingratidão, porém, tomou conta dos corações empedernidos. Ignoravam-na e não se dispunham a visitá-la na velhice.
O irmão Djalma assumiu a responsabilidade e proporcionou-lhe o necessário para um viver modesto. Embora tivesse sido uma exímia bordadeira – vivera disso – em idade provecta, contava apenas com a exígua aposentadoria e a benevolência do irmão. Este, posteriormente, trouxe-a de Vitória da Conquista para Brumado, cedendo-lhe casa mobiliada e contratando empregada para cuidar dela e fazer-lhe companhia.
Um dia, ela caiu e quebrou o colo do fêmur. Foi levada para o SAMUR, em Vitória da Conquista, onde fez cirurgia com prótese, operação exitosa. Em pouco tempo, já estava andando e de volta às atividades diárias, contudo dependia de uma assistência em tempo integral para os cuidados necessários. Após sua cuidadora ter-se demitido, a família achou por bem colocá-la na Associação Luísa de Marillac – entidade mantida pelo Centro Espírita – tendo em vista a dificuldade de um acompanhamento integral e contínuo, o qual a associação dispensava através de funcionários específicos para esse atendimento.
Alayde com “y” dizia que a escrita do seu nome era diferente das demais “Alaídes”, orgulhava-se disso. Exigente, falava que era pessoa de formação e educação refinada, sendo comum ela corrigir as pessoas nos deslizes das pronúncias ou do proceder em desacordo com a formalidade do costume e da civilidade. Muito vaidosa, comentava, em idade avançada, que não tinha rugas, visto que, na mocidade, cuidara-se com bastante esmero para que, na velhice, não ocorresse desgaste da sua pele. Mostrava-me o rosto, alegando que não tinha nenhuma ruga:
– Está vendo, meu sobrinho, como me cuidei?
– A Senhora está com a pele de uma moça de 15 anos, Tia – respondi-lhe lisonjeiro.
– Não exagere, seu descarado! – Objetou ela com ar de satisfação.
– “Vaidades das vaidades e tudo é vaidade” (Eclesiastes 1:2)
Certa feita, uma zeladora passava o pano no quarto onde Alayde vivia e pediu-lhe para “ribar os pés”. Esta prontamente a corrigiu: “Ribar não, minha filha, aprenda português, diga arribar, levantar ou suspender, é essa a pronúncia correta”.
Em outra ocasião, no seu aniversário, que era comemorado todo ano pelo irmão e pela família deste, surgiu a dúvida sobre sua idade. Então, alguém perguntou-lhe quantos anos ela completava, na realidade. Recebeu a seguinte resposta: “Você é Muito indelicado. Não se pergunta a idade das pessoas, mormente quando é mulher. Qual o seu interesse em saber a minha idade?” O interlocutor respondeu que se tratava de uma curiosidade, e ela retorquiu: “Fique com a sua, que fico com a minha!”.
Um parente visitou-a no SAMUR, na época em que ela fora operada. Curioso, perguntou-lhe a data de nascimento, ao que ela respondeu: “Nunca perguntei a sua idade, portanto, não se preocupe com a minha. Agradeço a sua visita, mas, a minha idade é problema meu”. Diante dessa resposta, o visitante foi até a secretaria e solicitou, na qualidade de parente, a idade da enferma. De posse da informação, voltou ao quarto e pronunciou-se, impetuoso, dizendo-lhe quantos anos tinha ela, acusando-a de malcriada. Recebeu da parenta veemente recriminação pelo gesto impertinente. Ele falava pelos cotovelos, muito alto, uma de suas características. A enfermeira chamou-o à atenção, dizendo-lhe que o ambiente requeria silêncio. Assim ela calou a voz do cidadão que tinha por hábito falar alto.
Alayde foi uma pessoa excessivamente dependente. Por ser pobre, dependia de ajuda que encontrou no irmão Djalma, seu protetor e mantenedor.
Eu tinha por ela verdadeira admiração e consideração. Convivi com Alayde durante muito tempo, em Vitória da Conquista, onde morávamos. Em Brumado, visitava-a todos os domingos, levando-lhe solidariedade, momentos em que conversávamos longamente sobre diversos assuntos. Ouvia as suas lamúrias da vida, porém era resignada com tudo que lhe acontecera por conta da desventura proporcionada pelo destino que é o senhor da razão. Apegava-se a Deus e a seus santos de devoção para lhe proporcionar e reservar um lugar digno conforme o seu merecimento.
Muitas vezes, ela me dizia: “Por favor, não me abandone, não me deixe sozinha”. Isso me deixava extremamente triste e comovido. A fé e a religiosidade eram companheiras diuturnas e inseparáveis que preenchiam a sua vida de esperança.
Católica devota, tinha pela igreja e pelos seus sacramentos um respeito imensurável, induzida pela crença inabalável da sua idolatria.
Faleceu na casa de repouso Luísa de Marillac, no dia 3 de junho de 2007, com 98 anos, sendo sepultada no Cemitério Municipal Jardim Santa Inês. Quando do seu falecimento, o meu coração ficou diminuído, e o sentimento de perda foi muito grande. Guardo dela a lembrança de uma pessoa digna e respeitável, cuja imagem fica indelevelmente gravada em minha mente, como se viva estivesse, e espero encontrá-la em outra dimensão, porquanto a morte, para mim, é apenas um descanso, um sono que só virá à realidade com a ressurreição.
Tive um carinho imenso por Alayde, de quem gostava por gostar, nutrindo por ela um sentimento de admiração, um amor consanguíneo inexplicável, uma afeição indiscutível e indescritível. Cristão, desejo-lhe que a PAZ a acompanhe eternamente.
Antonio Novais Torres
antorres@terra.com.br
Brumado, em 23/11/2008.


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