quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

ALAYDE DA SILVA SILVEIRA
*30/03/1909†03/06/2007

Alayde da Silva Silveira nasceu em 30 de março de 1909, na cidade de Condeúba/BA, filha de José da Silveira Torres (Zeca) e Anna Amélia da Silva. Eram seus avós paternos: João José da Silveira e Rachel Augusta Torres e maternos, Jovino Arsenio da Silva e Adelia Carolina da Silva Torres.
 Irmãos consanguíneos: Maria, Deusdedith, Waldemar, Oflávio, Dalva, Enelzita, Alvair e Djalma Silveira Torres. Depois da viuvez Zeca Torres teve dois filhos: João (Nenzinho) e Raquel Torres.
Casou-se, com Jesuino José Alves, por escolha da mãe, com quem não queria, pois amava, ou achava que amava outro homem. Naquela época, o namoro era a distância e dependia do consentimento dos pais. O escolhido por ela, alegava a família, era descendente de escravos. Uma situação que os familiares não aceitavam por discriminação e preconceito, justificava Alayde.
Viveu uma experiência negativa no casamento e teve uma vida atribulada, apesar do seu desempenho de altivez. Não fora feliz no matrimônio. Ficou viúva e tinha pavor a homem para um possível segundo relacionamento, pois vivera um inferno aturando o marido, um alfaiate que tentou matá-la pela fúria alcoólica. Comentava que não tivera filhos, mas criou vários. A ingratidão, porém, tomou conta dos corações empedernidos. Ignoravam-na e não se dispunham a visitá-la na velhice.
O irmão Djalma assumiu a responsabilidade e proporcionou-lhe o necessário para um viver modesto. Embora tivesse sido uma exímia bordadeira – vivera disso – em idade provecta, contava apenas com a exígua aposentadoria e a benevolência do irmão. Este, posteriormente, trouxe-a de Vitória da Conquista para Brumado, cedendo-lhe casa mobiliada e contratando empregada para cuidar dela e fazer-lhe companhia.
Um dia, ela caiu e quebrou o colo do fêmur. Foi levada para o SAMUR, em Vitória da Conquista, onde fez cirurgia com prótese, operação exitosa. Em pouco tempo, já estava andando e de volta às atividades diárias, contudo dependia de uma assistência em tempo integral para os cuidados necessários. Após sua cuidadora ter-se demitido, a família achou por bem colocá-la na Associação Luísa de Marillac – entidade mantida pelo Centro Espírita – tendo em vista a dificuldade de um acompanhamento integral e contínuo, o qual a associação dispensava através de funcionários específicos para esse atendimento.
Alayde com “y” dizia que a escrita do seu nome era diferente das demais “Alaídes”, orgulhava-se disso. Exigente, falava que era pessoa de formação e educação refinada, sendo comum ela corrigir as pessoas nos deslizes das pronúncias ou do proceder em desacordo com a formalidade do costume e da civilidade. Muito vaidosa, comentava, em idade avançada, que não tinha rugas, visto que, na mocidade, cuidara-se com bastante esmero para que, na velhice, não ocorresse desgaste da sua pele. Mostrava-me o rosto, alegando que não tinha nenhuma ruga:
– Está vendo, meu sobrinho, como me cuidei?
– A Senhora está com a pele de uma moça de 15 anos, Tia – respondi-lhe lisonjeiro.
– Não exagere, seu descarado! – Objetou ela com ar de satisfação.
– “Vaidades das vaidades e tudo é vaidade” (Eclesiastes 1:2)
Certa feita, uma zeladora passava o pano no quarto onde Alayde vivia e pediu-lhe para “ribar os pés”. Esta prontamente a corrigiu: “Ribar não, minha filha, aprenda português, diga arribar, levantar ou suspender, é essa a pronúncia correta”.
Em outra ocasião, no seu aniversário, que era comemorado todo ano pelo irmão e pela família deste, surgiu a dúvida sobre sua idade. Então, alguém perguntou-lhe quantos anos ela completava, na realidade. Recebeu a seguinte resposta: “Você é Muito indelicado. Não se pergunta a idade das pessoas, mormente quando é mulher. Qual o seu interesse em saber a minha idade?” O interlocutor respondeu que se tratava de uma curiosidade, e ela retorquiu: “Fique com a sua, que fico com a minha!”.
Um parente visitou-a no SAMUR, na época em que ela fora operada. Curioso, perguntou-lhe a data de nascimento, ao que ela respondeu: “Nunca perguntei a sua idade, portanto, não se preocupe com a minha. Agradeço a sua visita, mas, a minha idade é problema meu”. Diante dessa resposta, o visitante foi até a secretaria e solicitou, na qualidade de parente, a idade da enferma. De posse da informação, voltou ao quarto e pronunciou-se, impetuoso, dizendo-lhe quantos anos tinha ela, acusando-a de malcriada. Recebeu da parenta veemente recriminação pelo gesto impertinente. Ele falava pelos cotovelos, muito alto, uma de suas características. A enfermeira chamou-o à atenção, dizendo-lhe que o ambiente requeria silêncio. Assim ela calou a voz do cidadão que tinha por hábito falar alto.
Alayde foi uma pessoa excessivamente dependente. Por ser pobre, dependia de ajuda que encontrou no irmão Djalma, seu protetor e mantenedor.
Eu tinha por ela verdadeira admiração e consideração. Convivi com Alayde durante muito tempo, em Vitória da Conquista, onde morávamos. Em Brumado, visitava-a todos os domingos, levando-lhe solidariedade, momentos em que conversávamos longamente sobre diversos assuntos. Ouvia as suas lamúrias da vida, porém era resignada com tudo que lhe acontecera por conta da desventura proporcionada pelo destino que é o senhor da razão. Apegava-se a Deus e a seus santos de devoção para lhe proporcionar e reservar um lugar digno conforme o seu merecimento.
Muitas vezes, ela me dizia: “Por favor, não me abandone, não me deixe sozinha”. Isso me deixava extremamente triste e comovido. A fé e a religiosidade eram companheiras diuturnas e inseparáveis que preenchiam a sua vida de esperança.
Católica devota, tinha pela igreja e pelos seus sacramentos um respeito imensurável, induzida pela crença inabalável da sua idolatria.
Faleceu na casa de repouso Luísa de Marillac, no dia 3 de junho de 2007, com 98 anos, sendo sepultada no Cemitério Municipal Jardim Santa Inês. Quando do seu falecimento, o meu coração ficou diminuído, e o sentimento de perda foi muito grande. Guardo dela a lembrança de uma pessoa digna e respeitável, cuja imagem fica indelevelmente gravada em minha mente, como se viva estivesse, e espero encontrá-la em outra dimensão, porquanto a morte, para mim, é apenas um descanso, um sono que só virá à realidade com a ressurreição.
Tive um carinho imenso por Alayde, de quem gostava por gostar, nutrindo por ela um sentimento de admiração, um amor consanguíneo inexplicável, uma afeição indiscutível e indescritível. Cristão, desejo-lhe que a PAZ a acompanhe eternamente.
Antonio Novais Torres
antorres@terra.com.br
Brumado, em 23/11/2008.


AGNELO DOS SANTOS AZEVEDO





AGNELO DOS SANTOS AZEVEDO
PADRÃO DE CIDADÃO EXEMPLAR

*14/05/1908†06/08/2013

Conheci o Sr. Agnelo nos idos de 1958, época em que ele já era um próspero e conceituado comerciante, quando vim para Brumado para concluir o curso primário e prestar admissão ao ginásio – verdadeiro vestibular, tal o rigor da seleção e a exigência do conteúdo das provas –, eu era ainda um menino.

 Posteriormente, voltei a encontrá-lo, desta feita, eu já em idade adulta, nas reuniões políticas do PMDB, nas quais sua presença era indispensável pela sua postura serena, ponderada e equilibrada. Daí ser-lhe concedido o título honorífico de presidente de honra do partido – cargo por ele ocupado com a morte do saudoso Manoel Joaquim de Carvalho (Dr. Nezinho) –, porém, pela envergadura da idade, ultimamente ele não tem marcado presença nas reuniões do partido. Desses seus predicados, nasceu a minha admiração por Seu Agnelo, insigne personalidade. Honra-me conhecê-lo e ser seu amigo.

Agnelo dos Santos Azevedo nasceu em 14 de maio de 1908, em Bom Jesus dos Meira, hoje, Brumado. É o último da prole dos filhos do casal Casimiro Pinheiro de Azevedo e Filomena dos Santos Azevedo, sendo seus irmãos Jayme falecido aos 10 meses, Alcebino, Isolina, Idalina, Idália, Abias, Armindo, Iônia, Gerson, Gerôncio e Lindolfo dos Santos Azevedo. Foi encaminhado pelo princípio de uma educação correta recebida dos seus genitores e direcionado para o relacionamento amistoso, sincero, de união e amizade entre os irmãos e demais familiares.

Em 11 de abril de 1932, com 24 anos de idade, casou-se com Celsina de Lima Santos, 19 anos de idade, que após o casamento passou a assinar Celsina Santos Azevedo, filha de Fidelcino Augusto dos Santos e Cecília Lima Santos. O ato religioso foi realizado na Fazenda São José, residência dos pais da noiva, (hoje pertencente à empresa Magnesita S.A.) celebrado pelo Padre José Dias Ribeiro da Silva e no civil pelo juiz preparador Dr. Pedro Ribeiro. Foram padrinhos Marcolino Rizério de Moura e esposa Dona Placídia, além de irmãos e cunhados do noivo.

 Celsina foi companheira fiel e dedicada, seu único e verdadeiro amor, sentimento que lhe é retribuído na mesma intensidade. Com ela teve 10 filhos: Niete, Nilza, Edval, Evan, Nelcy, Nely, Cilene, Arnaldo, todos bem encaminhados, e dois falecidos com 4 e 10 meses de idade. D. Celsina, mulher afetuosa, devotou-se inteiramente ao marido, à administração do lar e ao zelo dos filhos, a quem proporcionou educação respaldada na honradez, no respeito e na dignidade.


Com a loja adquirida do senhor Braulino Meira, seu Agnelo foi comerciante durante 43 anos. Em seu estabelecimento comercial vendia chapéus, ferragens, louças, calçados e gêneros alimentícios por último especializou-se em venda de tecidos e afins, ao cabo dos quais se aposentou. Sua vida comercial foi assaz ilibada, cumpria rigorosamente com as suas obrigações sociais e civis, gozando de excelente conceito entre os colegas, os amigos e a comunidade.

Como curiosidade, seu Agnelo foi o primeiro comerciante a vender produtos funerários e o primeiro caixão foi vendido para o sepultamento de Francisco Ramos da Silva, vulgo Chiquinho Gavião, falecido em 06 de novembro de 1968, com informação da viúva Gildasia da Silva, dona Daninha. Foi também músico e pertenceu a filarmônica Musical que fez a sua primeira apresentação na inauguração do telégrafo em 15 de novembro de 1927.

Começou a sua lida desde cedo. Portanto, teve uma trajetória de vida dedicada ao trabalho que incluiu o comércio varejista diversificado, igualmente no negócio rural, comercializando algodão, cuidando de roça e criação de animais. Confessa que hoje seu maior prazer é desfrutar o sossego da propriedade rural, fazendo passeios e exercícios no campo, convivendo com a natureza e deliciando-se com essa dádiva divina que lhe estimula a felicidade de viver.

Foi iniciado no aprendizado primário por um professor vindo de Salvador, de nome Marinho Fernandes Galiza, tendo concluído apenas o terceiro ano. Afirma que, apesar de não ter estudado o suficiente para concluir um curso que lhe desse maior conhecimento literário, pois era um “inimigo” da escola – preferia as lidas do campo e do comércio –, incentivou seus filhos e disponibilizou as condições necessárias para que todos tivessem a sua formação intelectual e profissional, os quais preencheram suas esperanças e expectativas, e diz esperar que os netos também persigam esses ideais.

Homem simples, proveu a família sem lhe deixar faltar o necessário e o indispensável. Enfrentou dificuldades, mas obteve êxitos com determinação e a coragem de um destemido vencedor, declarando que o seu maior patrimônio é a família, com a qual vive feliz, em harmonia e união, tendo o respeito e a consideração de todos.

Lembrando-se da juventude, fez uma retrospectiva. Que Dona Celcina não esboce ciúmes! Disse que, julgando-se independente e nos arroubos de jovem, foi um grande paquerador à moda de sua época até conhecer a sua cara-metade e atual esposa, com quem partilha a felicidade de um convívio de respeito mútuo, de afinidades recíprocas e de amor consagrado pelo ensinamento da igreja católica de que “O que Deus uniu o homem não separe”.

Em suas reflexões, conclui que desejaria ter mais anos de vida, prolongando assim o convívio com sua inseparável e dileta esposa, filhos, netos, demais parentes e amigos, desde que fosse mantida a lucidez, a audição, a visão e a liberdade de movimentos, enfim, uma vida saudável. Para tanto, são dirigidas preces a Deus, as quais faz por intercessão da Santíssima Protetora Nossa Senhora, mãe de Jesus Cristo.

Relata que é uma pessoa sadia, em se desconsiderando os queixumes, as limitações e as doenças próprias da idade. Contou que, certa feita, ao se consultar com um médico, este, para testar os reflexos e a sua lucidez de provecto, pediu-lhe que escrevesse, no verso da receita, o que pensava da velhice. Ele, exercitando os neurônios, buscou nos recônditos da memória a seguinte quadra de sua autoria: Não tem ninguém mais feliz/Do que um velho independente/Para expressar o que deseja/Com o poder de sua mente.

Seu Agnelo, aos 93 anos, é um homem lúcido, consciente do dever cumprido, estribado no exercício pleno da cidadania, atento ao convívio social, civil e político, de invulgar qualidade moral e ilibada conduta. Orientou sua vida na direção dos bons exemplos de dignidade, fazendo prevalecer a justiça, o equilíbrio e a sensatez, sendo incapaz de ferir alguém. Preserva e honra a família a quem ama com a força que lhe brota do coração. É compreensivo e solidário, fiel e terno com a sua esposa e filhos. Nenhuma mácula há a denegrir a reputação desse cidadão exemplar. Preza os amigos, devotando-lhes lealdade, respeitando-os quanto as suas individualidades. É humilde, sereno sem preconceito de qualquer espécie.

É imperioso que o exemplo dessa figura humana extraordinária seja conhecido e divulgado para que os pósteros – a nossa juventude – o tenham como paradigma, pois quem assim procede dignifica e honra a sociedade, visto que a convivência com as pessoas e com a família, calcada nos exemplos citados, constitui o alicerce da conduta exemplar, do respeito e da autoridade moral.

Finalizando, quero desejar ao amigo Sr. Agnelo dos Santos Azevedo que as suas esperanças sejam concretizadas conforme a vontade de Deus e afirmar, com toda propriedade, que, pela sua conduta de homem íntegro, pelo seu caráter, sua honestidade, sua idoneidade e atos de moralidade, qualidades que o dignificam, a sociedade brumadense o reconhece como uma pessoa de virtudes e moral ilibada. Presto-lhe homenagem com o seguinte poema de Bastos Tigre:

“Entre pela velhice com cuidado, /pé ante pé, sem provocar rumores, / que despertem lembranças do passado, / sonhos de glória ou ilusões de amores. / Do que houveres no pomar plantado, / apanha os frutos e recolhe as flores. / Mas, lavra ainda e cuida o teu eirado, / outros virão colher quando te fores./ Não faças da velhice enfermidade,/ alimenta o espírito na saúde,/ luta contra as tibiezas da vontade./Que a neve caia, que o andar não mude,/ mantém-te jovem, não importa a idade,/tem cada idade a sua juventude”.

ADENDO em 14/05/2008:

Em homenagem aos 100 (cem) anos de vida de Seu Agnelo, completados no dia 14/05/2008, com missa em Ação de Graças rezada na Igreja Matriz, no dia 17/05/2008, republico o artigo que escrevi falando da sua figura de homem respeitável e moralmente correta. Trata-se de uma enciclopédia viva da nossa história e está muito lúcido, apesar da idade centenária. Um exemplo de pessoa que diz só ter amigos. Pelo seu perfil de homem honesto e incorrupto, rendo-lhe homenagens.

 Prestaram homenagens: familiares com mensagem pelos seus 100 anos relatando emocionantes virtudes generosas do aniversariante – prudência, temperança, fortaleza e justiça, conforme ensina a Igreja Católica corroborados por amigos do homenageado.

A deputada Ivana Bastos manifestou na Assembleia Legislativa sinceras congratulações para o senhor Agnelo dos Santos Azevedo, pela passagem dos seus 104 anos, comemorados com grande alegria pelos seus familiares, amigos e admiradores. Dê ciência desta Moção à Câmara de Vereadores, aos familiares do homenageado e aos meios de comunicação local.
Sala das Sessões em 14 de maio de 2012.
Ivana Bastos – deputada Estadual - PSD.

ADENDO 17/05/2012:

Ao completar 105 anos o vereador Weliton Lopes prestou-lhe homenagem na Câmara de Vereadores lendo a sua biografia e acrescentou: “Por tudo isso, representantes do povo, não poderíamos deixar de prestar essa homenagem ao cidadão Agnelo dos Santos Azevedo, que nos honra muito e dignifica, inclusive, a palavra Cidadão”.
Sala das sessões da Câmara de Vereadores de Brumado-Bahia, em 17 de maio de 2012.

ADENDO EM 06 DE AGOSTO DE 2013:

 Morreu na madrugada desta terça-feira, 06, por volta dos 3h, Agnelo dos Santos Azevedo, 105 anos, até então o filho mais velho de Brumado. Agnelo estava internado em um hospital em Salvador e faleceu vítima de um AVC - Acidente Vascular Cerebral. O corpo será trasladado para Brumado e está previsto chegar às 17 horas. O velório será na sua residência na Praça Armindo Azevedo e o sepultamento será amanhã (7/8) às 10 horas.

Que Deus receba seu Agnelo com a paz merecida. Esse cidadão de referência ímpar da nossa sociedade símbolo de virtudes, de personalidade privilegiada cujo carisma é modelo da moralidade, pautou pelo princípio ético dando bom exemplo. Descanse em Paz Agnelo dos Santos Azevedo por estes longos anos de vida que o Altíssimo lhe concedeu por Desígnio divino. Es orgulho de Brumado pelos exemplos da bem-aventurança praticados.


Brumado, em 05/11/2001.
Antonio Novais Torres
antorres@terra.com.br

ADITIVO EM 26 DE SETEMBRO DE 2013:

Projeto de Lei nº 026/2013

Art. 1º - Passa, doravante a denominar-se” RUA AGNELO SANTOS AZEVEDO”, localizada entre o trecho do anel Viário que interliga a BA 262 e a BR 030 à Avenida Cel. Santos.

Indicação do vereador Weliton Lopes do Nascimento (PR), corroborado por seus membros e sancionada pelo prefeito Aguiberto Lima Dias.

Brumado em 26 de setembro de 2013.


Antonio Novais Torres
Brumado, 26/09/2013.





BIOGRAFIA DE ADÉLIA DA SILVA CARDOSO
DONA DEZINHA
*10-12-1910
† 24-12-2002

Adélia da Silva Oliveira (D. Dezinha) nasceu em 10 de dezembro de 1910, na Fazenda Baixa do Arroz, no então município das Vitórias, atual Vitória da Conquista/BA. Era filha de Joaquim Fernandes de Oliveira (Quinquinha da Jiboia), natural de Vitória da Conquista e de Maria Dias da Silva Oliveira, natural de Jussiape, que morreu em consequência do parto de D. Dezinha. Esta foi morar com a avó materna, Isabel Dias de Oliveira, Xixa, que era professora, tinha uma escola e falava francês, por quem foi educada e instruída e aprendeu a costurar camisas, fazer tricô e crochê, atributos que lhe rendiam ganhos.
“Minha Mãe, nunca frequentou uma escola. Foi alfabetizada e sempre estudou dentro de casa e sempre supervisionada pela minha avó materna Izabel Dias de Oliveira que era professora e letrada em Francês”, afirmações de Perouse Cardoso.
São irmãos germanos de D. Dezinha: Áurea da Silva Oliveira (Aurinha) e Ariovaldo Fernandes de Oliveira. Ela teve, também, irmãos unilaterais, referentes a outros relacionamentos de Joaquim Fernandes de Oliveira: Maria Luíza, Ana Dejanira, José, Eurípedes, Elder, Isauto, Euder, Eupépio, Elzita, Enedina e Zildine.
Adélia da Silva Oliveira casou-se, ainda adolescente, aos 14 anos de idade, com Áppio Cardozo da Paixão (Cardosinho), 31 anos de idade, natural de Bom Jesus dos Meiras, comarca do Brejo Grande, atual Brumado, nascido em 23/02/1893, filho de Manoel Cardozo da Paixão e de Clotildes Dantas de Miranda Paixão, ambos naturais da cidade Minas de Rio de Contas. O casamento civil foi realizado no dia 24-12-1924, em Jussiape/BA e o religioso, celebrado pelo Pe. José Dias Ribeiro da Silva, na Igreja Matriz de Bom Jesus dos Meiras (Brumado), em 02-03-1925. Foram testemunhas do casamento civil, Isidoro Mascarenhas e Luiz Ribeiro Dias. Após a formalidade do ato ela passou a assinar Adélia da Silva Cardoso.

Da união entre Áppio e Adélia nasceram os filhos: Manoel Cardoso Neto (Nelito), Maria de Lourdes (Liá), Gildásio (Dásio), Walter (Zinho), Wagner (Nem), Terezinha de Jesus (Tê), Zilma (Biba), Newton (Niltão), Sebastião (Tiãozito), Gilberto (Giba), Perouse (Péu), Roberto (Ró), Ubiratan (Bira), Irã (Nã) e Mari ’Stela (Tela) da Silva Cardoso, além de Frederico Lisboa Filho (adotivo), os quais perfazem o total de 16 filhos.

Incansável trabalhadeira, ajudava o marido, alfaiate, confeccionando camisas – era exímia profissional nessa arte – e ambos desenvolveram as condições para a criação, instrução e formação dos filhos.

Na década de 1930, recebeu convite para exercer o cargo de Escrivã da Vara do Júri e Execuções Penais, recém-criada e a ser instalada na Comarca de Brumado, o que fez interinamente. Logo em seguida, prestou concurso na vizinha cidade e Comarca de Ituaçu, a cuja Comarca Brumado pertencia. Em 1940, foi nomeada e empossada pelo Dr. Azarias Batista Neves, a quem prestou exames para o cargo de Tabeliã de Notas, passando a assumir, também, o Cartório de Protesto de Títulos e Duplicatas. Sebastião da Silva Cardoso (filho) era o seu subtabelião. Nessa época, D. Dezinha contou com a orientação, nas questões de terras, do experiente Dr. Arthur Revenster da Costa, causídico provisionado. Em 1972, com 62 anos de idade ela aposentou-se nesse ofício.

Em homenagem a Áppio Cardozo, Terezinha Cardoso publicou, no jornal A Tarde, na edição de 23-01-1983, um artigo do qual transcrevemos o seguinte excerto: “Com este Homem sincero e íntegro aprendi as leis da verdade e da pureza, caminhos para distinguir ‘preconceito’ de ‘integridade’, repudiando o primeiro e assentando minha base filosófica na segunda. Este camponês chama-se Áppio Cardozo, de quem, seja Deus! Eu sou filha. Felizmente”. Esse depoimento honra e dignifica Dona Dezinha na qualidade de esposa e de mãe.

Walter Castro Bonfim, professor e advogado, amigo e colega de trabalho de Tiãozito, e de resto, toda a família, fez uma bonita homenagem a D. Dezinha na comemoração dos seus 90 anos.  Diz o professor e advogado Walter Castro Bonfim em partes de seu texto:

Áppio Cardozo da Paixão, pai extremoso que todos os filhos endeusam, e D. Dezinha, administravam a numerosa prole com todo o rigor que a caracterizava.

 D. Dezinha já era uma das prestigiadas personalidades da comunidade de Brumado, ombreando nomes como Armindo dos Santos Azevedo, Prefeito do Município; Monsenhor Antônio Fagundes, nosso eterno pastor; Manoel Fernandes dos Santos, comerciante e político; Dr. Manoel Carvalho, o farmacêutico Dr. Nezinho; Dr. Délio Gondim Meira, advogado de renome; Dr. Juracy Pires Gomes, médico, que dava os primeiros passos como político; Hermes Santos, escrivão cível, a quem sucedi no cargo; Cel. Zeca Leite; Agnelo Azevedo; Aloísio Castro; Sebastião Meira Santos, comerciantes, Maria de Lourdes Viana Leite, a D. Lourdinha, modelo de servidora da Justiça; Belaniza P. Santos, a D. Bela, outra valorosa mulher e mãe; Arthur Revenster Costa, respeitado advogado provisionado; Dra. Magna Maria P. Santos, juíza de Direito de saudosa memória; Dr. Valter Martins de Andrade, gerente da Magnesita S.A., Érico Dias Lima, professor; Dr. Ubaldo Meirelles, cirurgião dentista, entre outras.

Célia e eu, que sempre fomos tratados por D. DEZINHA com especial deferência, nos orgulhamos de pertencer ao seu círculo de amizades e, com este despretensioso depoimento, presto a ela nossa homenagem, pelo que representa como exemplo para a comunidade e pelos seus 90 anos de vida”.
 Dez./2000.

Trechos da homilia da Missa em Ação de Graças pelos 90 anos de Adélia da Silva Cardoso, celebrada por Monsenhor Antônio da Silveira Fagundes, concelebrada pelo Bispo de Caetité D. Ricardo Guerino Brusati:

Estamos rendendo hoje, aqui e agora, um culto de ação de graças a Deus, por intermédio do sacrifício da missa, pelos 90 anos de vida de D. Adélia da Silva Cardoso”.

“Em 76 anos de matrimônio, duas pessoas conscientes de suas obrigações formaram, com seu trabalho, o cenário da família, o mais belo quadro de paz, de compreensão e amor”.

“Agradecemos, pois, a Deus por ela ter assumido o amor, bem sabendo que amar é sofrer, é enfrentar vigílias de solidão e de espera, passar noites em branco à cabeceira dos filhos, é lutar pelo pão de cada dia. Agradecemos a Deus pelo seu heroísmo, sabendo que uma vida nova é um fardo pesado a carregar e, muitas vezes, motivo de sofrimento para ampará-la e protegê-la. Agradecemos a Deus pela sua coragem e força de vontade para criar seus filhos, encaminhando-os para o bem, para uma vida feliz, de cidadãos e cristãos. Agradecemos a Deus pelo esposo humilde e dedicado que lhe acompanhou os passos, repartindo com ela sofrimentos e alegrias”.

“Agradecemos a Deus por Ele ter dado por cumprida a sua nobre missão, já que seus filhos adultos agora lhe retribuem o amor e a dedicação com redobrado sentimento de gratidão”.

“Agradecer a Deus tornou-se hoje voz de seus filhos e amigos nesta hora solene da Santa Missa de Ação de Graças. Que o tempo não venha empanar a beleza dessa união, conservando todos obedientes a seus conselhos”.

“Graças, pois, a Deus, num pedido fervoroso, para que seus dias sejam prolongados para mais satisfação dos filhos e de todos que a estimam”.

“Graças, pois, a Deus, por nos reunirmos neste acontecimento feliz que nos comove a todos, envolvendo-nos numa atmosfera de amor e de prece”.

“Assim seja!”.

Através da Lei nº 1.491, de 3 de setembro de 2007, o Município a homenageou, dando seu nome a um logradouro da cidade no bairro Santa Tereza, que passou a denominar-se Praça Adélia da Silva Cardoso. Áppio Cardozo da Paixão, esposo de D. Dezinha, também, foi homenageado, nominando um logradouro no bairro Santa Tereza.
Através da Resolução 03/2000, em 08 de dezembro de 2000, em sessão solene, por iniciativa do vereador José Luiz Alves Ataíde, foi outorgado o título de Cidadã Brumadense à senhora Adélia da Silva Cardoso. Fizeram parte da mesa, além da homenageada, o advogado Newton Cardoso (filho) e a esposa; Terezinha Cardoso (filha), representando os demais irmãos e familiares; o prefeito municipal Edmundo Pereira Santos e a primeira-dama Marizete Fernandes Lisboa Pereira; a Juíza de Direito Leonor da Silva Abreu e o senhor Deilson Nogueira Tibo, representando a empresa Magnesita S.A. José Luiz Alves Ataíde leu a biografia da senhora Adélia da Silva Cardoso e entregou-lhe o título de Cidadã Brumadense, proposto por ele e aprovado pela unanimidade da Câmara.

O advogado Newton Cardoso (filho) agradeceu a homenagem prestada a sua genitora e discorreu sobre a vida da homenageada. O Doutor Deilson Nogueira Tibo, gerente da Magnesita S.A., representando Dr. Hélio Guimarães, um dos acionistas da empresa, também relatou resumidamente a história de D. Dezinha e seus filhos.

Adélia da Silva Cardoso faleceu em 24 de dezembro de 2002, com 92 anos de idade, em Salvador e teve seu corpo cremado. As cinzas foram espalhadas no jardim da casa onde residiu em Brumado. Áppio Cardozo da Paixão faleceu em 17 de Abril de 1983, com 90 anos de idade, e encontra-se enterrado no cemitério municipal Senhor do Bonfim.

FONTES:

Artigo Uma Soberana do Agreste de autoria de Sebastião da Silva Cardoso (Tiãozito) em 11 de outubro de 2000, publicado no livro Trajetória de um empreendedor;

            Jornal A TARDE de 23-01-1983, constante do livro Trajetória de um empreendedor;

Artigo do advogado Walter Castro Bonfim em comemoração aos 90 anos de Dona Dezinha;

Registro da Missa solene em Ação de Graças pelos 90 anos de Adélia da Silva Cardoso, celebrada pelo Monsenhor Antônio da Silveira Fagundes;

Prefeitura Municipal de Brumado, Lei 1.491 que dispõe sobre denominação de Praça com o nome de Adélia da Silva Cardoso;

Câmara Municipal de Brumado, resolução 03/2000, de autoria de José Luiz Alves Ataíde, outorga do título de Cidadã Brumadense a Adélia da Silva Cardoso;
Afrânio Cotrim (advogado residente em Aracatru);

Dados fornecidos por Ubiratan Cardoso e demais irmãos consultados;

Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais em Brumado.


Antonio Novais Torres
Brumado, em 27/10/2013.


sábado, 16 de janeiro de 2016

ADALBERTO GOMES PRATES




ADALBERTO GOMES PRATES
⃰ 12/11/1926†?


            Adalberto Gomes Prates, quarto filho da prole de oito irmãos, nasceu no distrito de Laços/Ituaçu, no dia 12 de novembro de 1926. É filho de Guilhermino Gomes Prates, natural de Mucugê/BA e Corina Amélia Prates, natural do distrito de Laços, Ituassú, (Ituaçu), nascida em 20 de janeiro de 1918 e dedicou toda a sua vida ao cônjuge e aos filhos. São filhos do casal: Agenor, Maria de Lourdes, Sebastião, Adalberto (biografado) Armando, Leonor, Elza e Mario Gomes Prates.

             Iniciou os estudos aos sete anos de idade, com a professora pública estadual Elza dos Santos Rebouças, natural da capital do Estado, onde residia até ser nomeada para assumir a cadeira do ensino primário no distrito de Laços/Ituaçu. O transporte de Salvador para o distrito de Laços, um percurso de 700 km, fazia-se por trem de ferro até Contendas do Sincorá, última estação ferroviária (ferrovia em construção) e daí em diante, de cavalo, em uma estrada carroçável, de condições precárias até o seu destino. 

            No período de férias, os pais dos alunos se cotizavam e pagavam uma professora leiga, particular, senhora Maria Clara Rocha (Clarinha), para ministrar o ensino aos meninos.

 Trabalhou com o pai no município de Ituaçu, quando tinha 13 anos de idade em sua casa comercial de secos e molhados e tinha a incumbência de levar para a família os gêneros alimentícios destinado aos que ficaram no distrito de Laços, posteriormente, acompanhou o pai com a família para Várzea Queimada no mesmo município.

            Além de ajudar o pai no comércio, ajudava-o também nas despesas. Fabricava e vendia alpercatas, valises, malas, rédeas, cabrestos e arreios (acessórios para montaria), gerando um bom lucro. Em uma fábrica de sandálias desativada na cidade de Brumado, Adalberto comprou o estoque remanescente, fazendo um bom negócio que lhe proporcionou um excelente resultado financeiro.

            Aprendeu a tocar sanfona de oito baixos. Lembra-se de um senhor da relação familiar, de nome Emídio, que dizia: “Esse menino ainda vai tomar conta de uma caixaria (profissão de caixeiro) na cidade grande, pela sua diligência”.

            Em 1945, o pai comprou uma propriedade no lugar denominado Ladeira, distante 5 km de sua casa comercial, para onde a família se mudou. Curioso e esperto, no lugar onde residia, somente ele sabia dar nó em gravatas.  Arriscou-se, também, na arte de cabeleireiro e, por ter a mão boa para cortes (segundo as clientes), fazia muito sucesso com as mulheres. Exercia essa atividade amadorística, com oficina de trabalho improvisada embaixo de uma árvore frondosa localizada em frente à sua casa, sem cobrar pelo serviço executado, apenas pelo prazer de ser útil. Em troca, recebia um “muito obrigado” ou “até logo”.

            Nessa época, conheceu a casimira Aurora, o tropical Inglês, o chapéu Panamá e o linho diagonal York Street, todos importados. Muitos de seus conterrâneos faziam uso desses produtos em ocasiões especiais. Lembra-se de um senhor afrodescendente, apelidado de Coqui, nome que o identificava, proprietário de um carro de bois de aluguel que, nos dias festivos, apresentava-se trajado a rigor, com indumentária de linho branco, chapéu Ramenzoni3xis.

            Em 1950, com 24 anos de idade, deixou a sua terra natal com destino à Vitória da Conquista, em busca de novos estudos e melhores condições de vida. Fez o percurso de 185 km em carroceria de um caminhão, em uma estrada de terra e cheia de curvas. A distância causou-lhe grande saudade do seu lugar, dos pais e dos amigos.

            Em Vitória da Conquista, deslumbrou-se com a iluminação elétrica que, até então, não conhecia. Encontrou-se com os primos amigos:  Walter Gomes de Miranda e suas irmãs Iracema, Alice e Maria Augusta (Mariquinha), filhos da sua tia Dina Prates de Miranda, todos seus conterrâneos. Conheceu também o senhor Cid Magalhães (auditor fiscal do Estado) e sua irmã Hélia Magalhães (†04/02/2010), amizade que durou 64 (sessenta e quatro) anos.

Quando sua filha Célia Regina foi estudar em Vitória da Conquista, no Instituto São Tarcísio, recebeu deles um convite para que ela fosse morar com eles em sua casa, onde desfrutou excelente acolhida, gesto que jamais se esqueceu. Por gratidão e em nome da amizade, deu-lhes para batizar a filha caçula, Cleide, portanto, além de amigos e compadres, consideram-se irmãos.

            Em Conquista Adalberto visitou o conterrâneo Vespasiano Dias, cirurgião dentista, cujos pais Guilhermino Gomes Prates e Coronel Minervino Dias, pai de Vespasiano, as famílias mantinham tradicional relação de amizade. Nesse encontro, em seu gabinete dentário, dele recebeu um escrito de apresentação endereçado ao professor Everardo Público de Castro, Diretor do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), oportunidade em que matriculou-se naquela escola profissionalizante que lhe proporcionou importantes aprendizados.

            Em 25 de janeiro de 1954, foi ao Rio de Janeiro a convite do tio Agenor Gomes Prates. Lá, de 28 de fevereiro a 2 de março teve a oportunidade de presenciar o Carnaval carioca e apreciar todas as suas liberdades e sensualidades expostas e, para ele, desconhecidas. O impacto causou-lhe estranheza por não estar acostumado àquele comportamento liberal e libertino da cidade “civilizada”.

            Em maio de 1955, matriculou-se no curso de Química Industrial, a distância: Instituto Científico de Química Industrial do Rio de Janeiro, reconhecido pelo Ministério da Educação, com especialidade em bebidas, o qual contava com vários professores de alta competência sob a orientação do diretor Dr. Armando Schepis.

            Em 1958, concluído o curso de química, escolheu a cidade de Brumado, onde montou a primeira fábrica de bebidas com destaque para o Vinho de Jurubeba Lobo e o Vermouth Rozano, carros-chefes de venda da indústria. Essa fábrica foi a pioneira na cidade e mereceu a visita de várias pessoas, inclusive entrevista de estudantes do Ginásio General Nelson de Mello, os quais elogiaram os produtos com a aprovação pela sua excelente qualidade.

            “Era nosso vendedor, nessa época, o senhor Sílvio José Pereira Franco, que posteriormente tornou-se proprietário da indústria”. A indústria de bebidas tinha como clientes comerciantes de São Félix e Cachoeira no recôncavo baiano, Montes Claros em Minas Gerais e, no Oeste do Estado da Bahia, Boquira, Oliveira dos Brejinhos e Ibotirama. As entregas em cidades circunvizinhas eram feitas com um velho caminhão Chevrolet com defeito na ignição, dirigido pelo senhor Joaquim ‘Retratista’ que o deixava sempre engrenado e em lugar com declive para facilitar a partida.

            ”Certa feita, o garoto Washington Fernando Franco, travesso, entrou no caminhão e o desengrenou. O veículo desceu a ladeira e derrubou um poste de luz. O prefeito da época, o amigo Manoel Fernandes dos Santos, autorizou um funcionário responsável pelo setor a substituir o poste sem ônus”. 

            No dia 15 de fevereiro de 1959, o empresário Adalberto, homem de visão futurista, acreditando no potencial de Brumado, edita o primeiro jornal da cidade com o título ‘O Jornal de Brumado’, trazendo uma gama diversificada de notícias, entre outras, por exemplo, o Carnaval realizado no Clube Social de Brumado, com destaque para a eleição e coroação da Rainha e das Princesas, respectivamente Nely dos Santos Azevedo, Maria Helena Viana Machado e Alaíde Santana. Por questões de custo/benefício, o jornal não foi avante, ficou apenas na primeira edição.

Em 02 de setembro de 1962, com residência própria, casou-se com a professora Maria de Lourdes Prates, filha do Major Antonio Xavier Prates e dona Alice Rizério Prates, com quem teve quatro filhos: Adalberto Júnior, Célia Regina, Elizabeth e Cleide.

            Por problemas financeiros e econômicos, na época, arrecadou as suas economias e mudou-se para Vitória da Conquista com a mulher e o filho primogênito Adalberto Júnior de quatro meses e foram morar em um quarto de um pensionato. Daí, trilhou novos caminhos.

            Em 1968, montou a primeira casa de móveis e eletrodoméstico, com fabricação de colchões de molas, com o nome fantasia ‘Simperbel Móveis’, cujo significado era ‘Simplicidade, Perfeição e Beleza’. Inteligente e talentoso construiu várias casas e as revendia, perspicácia de empreendedor.

            Em 2003, apresentou ao poder público constituído, através de políticos locais, um Mapa Rodoviário de sua confecção anexo a um pedido de construção de uma rodovia de Brumado até Salvador via Maracás, que encurta a distância em 200 km. Parte dessa estrada já se encontra pronta e conecta-se com a BR-116 em Milagres.

            Levou ao conhecimento do Poder Público Municipal a necessidade de se edificar uma estátua do Cristo Redentor, porquanto Brumado é uma cidade cuja origem é de católicos professos. Ele sugeriu, ainda, depois de seus estudos da numerologia, a mudança do nome de Brumado para Minápolis, que condiz melhor com a vocação da região.

            Adalberto Gomes Prates, por méritos pelo que já fez em Brumado e por mourejar nesta cidade, por muitos anos, da qual tanto se orgulha, merece o reconhecimento de filho adotivo da terra.





·       Fontes:
·       Os dados desta biografia foram fornecidos pelo biografado, a quem creditamos os méritos e agradecemos pela colaboração.
·       Pesquisas realizadas referentes ao currículo do biografado.


Antonio Novais Torres

Brumado, em 21/11/2014.

ABIAS DOS SANTOS AZEVEDO




ABIAS DOS SANTOS AZEVEDO
BIOGRAFIA E HOMENAGEM PÓSTUMA
*11-10-1896
†16-07-1978

Abias dos Santos Azevedo nasceu na cidade de Bom Jesus dos Meiras, atual cidade de Brumado, no dia 11 de outubro de 1896. Filho do Major Casimiro Pinheiro de Azevedo e Filomena dos Santos Azevedo. Ele descende de Ibiassucê, antigo São Sebastião do Cisco, distrito de Caculé. Ela tem origem no distrito de Itaquaraí, pertencente ao município de Brumado. O casal teve uma prole de 12 filhos: Jayme (falecido), Alcebino, Isolina, Idalina, Idália, Abias, Armindo, Iônia, Gerson, Gerôncio, Lindolfo e Agnelo dos Santos Azevedo.

Abias casou-se com Alice Alves da Silva de 16 anos de idade, em Condeúba-BA, no dia 6 de novembro de 1918, perante o Juiz daquela Comarca, a qual, depois de casada, passou a assinar Alice Alves de Azevedo. Ela nasceu em 13/08/1902 e era filha do Capitão Sebastião Alves da Silva e de Idalina Alves da Silva. Dessa união, nasceram nove filhos: Euvaldo, Eulina, Maria, Mário, Ítala, Caio, Gilberto, Edir, e Solange dos Santos Azevedo. Além dos filhos o casal Abias/Alice criou uma sobrinha, filha de Sebastião, por Nome Ilza, a qual foi criada com os cuidados de pais biológicos.
Firmaram residência na fazenda “Itamaraty” em Bom Jesus dos Meiras (Brumado) - que atualmente pertence ao município de Malhada de Pedras-BA) -, cujo proprietário atual é seu neto Adalberto Azevedo Pimentel.

Abias estudou em Brumado e concluiu apenas o curso primário. Conquanto se tratasse de um homem de pouco estudo, tinha tino comercial e visão altaneira. Amealhou patrimônio considerável. Era um grande empreendedor. Tinha várias propriedades, dentre as quais o ‘casarão dos Canguçus’, patrimônio histórico da cidade localizado na saída para Livramento de Nossa Senhora, hoje de propriedade de Newton Cardoso, o qual abriga o memorial Ápio Cardoso.

Dado histórico do “Sobradão” como era conhecido: segundo a tradição foi construído por Exupério Pinheiro Canguçu, o proprietário do solar do Brejo para sua estada nos fins de semana, porém não consta do seu inventário. No século XX é proprietário do imóvel o senhor Mário Meira e sua primeira esposa Esther Gondim Meira. Em 1942, Mário Meira, então viúvo e único proprietário do sobrado, vende parte do mesmo para Abias dos Santos Azevedo e em 1955 Mário Meira e a segunda esposa Iône Azevedo vendem o restante do imóvel ao senhor Abias dos Santos Azevedo sendo este proprietário único do imóvel e com a sua morte (1978) os herdeiros vendem-no para Newton Cardoso que o transforma em museu Áppio Cardozo da Paixão.

Sua carreira comercial teve início na loja de seu pai. Posteriormente abriu comércio próprio com a loja “Flor do Sertão”, em Malhada de Pedras e, em expansão, montou uma farmácia e um mercadinho.

Em 1955, mudou-se para Brumado, onde ampliou o seu comércio e abriu a loja “A Vencedora”, localizada na Praça Coronel Santos que hoje tem o nome do ex-prefeito e seu irmão Armindo dos Santos Azevedo. Ali ele vendia artigos de armarinho, tecidos e calçados.

Além de desenvolver outros comércios, tornou-se pecuarista, dedicando-se a compra e revenda, cria e recria de gado. Proprietário de outras fazendas em cidades vizinhas, comprou a fazenda ‘Laete’,  na localidade Olhos D’água do Cruzeiro, em Jequi-BA, onde morou por seis anos.

Em seu retorno para Brumado, comprou a fazenda Tanque, do Sr. Manuel Pereira Santos (Seu Nem) e, por expansão da sede do município, a fazenda passou a pertencer à zona urbana. Então, instituiu, em julho de 1974, o loteamento dessa área, ao qual foi dado o nome de ‘Loteamento Fazenda do Tanque’, onde delimitou 90 lotes. Após a sua morte, em 1978, os herdeiros lotearam mais 261 glebas que denominaram de Loteamento Azevedo. Infelizmente o destino não permitiu a concretização de seu sonho.

Um dos lotes de propriedade da herdeira Ítala dos Santos Azevedo foi doado para a construção da Igreja Santa Rita de Cássia. A realização desse loteamento contribuiu consideravelmente para o crescimento e o progresso de Brumado, com construções diversas, o que deu um novo aspecto à cidade que tomou o impulso do desenvolvimento.

Por indicação do vereador Gonçalo Pedro da Silva, Abias dos Santos Azevedo ingressou na política em Brumado, em 1951. Elegeu-se vereador e foi indicado para ser o Presidente da Casa Legislativa, no governo do prefeito Manoel Joaquim Carvalho dos Santos (Dr. Nezinho), que governou no período de 1951 a 1955. Abias foi presidente do PSD e um dos fundadores do MDB brumadense, evento que se realizou em 15/07/1966. Em 31 de março de 1954 renunciou o cargo de presidente da Câmara de Vereadores para concorrer ao cargo de prefeito, pelo PSD, em oposição ao irmão Armindo dos Santos Azevedo, para quem perdeu a eleição. Embora divergentes políticos, mantinham a amizade e a união familiar.

A câmara de Vereadores de Brumado homenageou-o, nominando a praça onde está instalada a Casa Legislativa com o nome “Praça Abias dos Santos Azevedo”, situada no bairro do Hospital, pertencente ao loteamento Azevedo.

Nos finais de semana, Abias costumava caçar e pescar e se divertia jogando pôquer com os amigos Manoel Joaquim de Carvalho (Dr. Nezinho), Virgílio Vasconcelos, Nilamon Carvalho e outros.

NOTÍCIA DO JORNAL DA CIDADE DE CONDEÚBA:
Para assistirem ao casamento Silva-Pereira, vieram à cidade nosso assinante, Major Abias dos Santos Azevedo, acreditado negociante em Bom Jesus dos Meiras, e seu cunhado, o jovem Sebastião da Silva Filho, que algum tempo reside em sua companhia.
Ficamos muito agradecidos com a visita que Abias fez a nossa oficina”.
 (Trata-se do casamento do Tenente João Batista Alves Pereira com Dalila Aurora da Silva que após o casamento passou a assinar Dalila Aurora Alves Pereira, em Condeúba/BA, ao qual se fez presente a fina flor da sociedade condeubense).

Abias dos Santos Azevedo conviveu com sua esposa Alice Alves de Azevedo durante 60 anos e levaram uma vida matrimonial de muito amor, harmonia e compreensão. Ele deixou o exemplo de dignidade e honradez, orgulho para a sua família. Seus filhos relembram que o pai gostava de dançar. Levava a mulher e os filhos para as festas e, no carnaval, comprava os apetrechos da época, o que fazia a alegria da família. Eles relatam que Abias foi um excelente esposo, amoroso com a consorte e os filhos, cordial e educado com todos. Tratava-se de um grande homem, íntegro, pai exemplar, esposo fiel e atencioso. Homem honrado, de palavra. Um grande amigo.

Abias dos Santos Azevedo faleceu em 16 de julho de 1978, aos 82 anos de idade e o corpo está sepultado no cemitério municipal Senhor do Bonfim. Sua esposa faleceu no dia 27 de junho de 2002. A filha Solange, comovida, expressou: “Foi um grande homem. Um bom pai. Um bom esposo. Um grande amigo!”. “Minha mãe era muito amorosa com todos nós, esposa dedicada e muito atenciosa com todos, exemplo de bondade, dignidade e honradez”.

Extraído do livro Lagoa do Leite – causos e lembranças de Nilton Vasconcelos, edição de julho de 2014:
“ Seu Abias Azevedo, irmão de Seu Armindo, ex-prefeito de Brumado, quando faleceu, era um homem de muitas propriedades, terras, lojas, um homem rico. Mas, antes de ter loja grande em Brumado, negociou em muitas praças da região, inclusive em Ubiraçaba, onde se passou a seguinte história. Ele mexia principalmente com tecidos. Tinha uma boa freguesia, mas o que faltava, muitas vezes, era troco. Dinheiro miúdo para dar de troco nas compras que o povo fazia. Então, para resolver esse problema, ele apresentou uma solução que foi aceita por todos, por ser ele uma pessoa muito considerada.
Mandou imprimir, num papelão, o nome da firma e o termo “VALE”. Num espaço em branco, ele escrevia o valor que assumia como dívida. Aquele vale servia também no comércio e na feira, tamanha era a confiança que as pessoas tinham no negociante. Ele tinha crédito. A qualquer momento, havendo troco, o cidadão possuidor do vale poderia resgatar o “Título”, ou usá-lo numa próxima compra. Era uma espécie de “conta – corrente”, ao contrário. Ou seja, quem ficava devendo era o vendedor. Como era uma pessoa em quem todos acreditavam, não dava problema.
Em certa oportunidade, Lolô, nome de batismo Jerulino, [...] encomendou, na loja de Seu Abias, uma fazenda de tecido para costurar um terno. [...] Ele tomou um lápis e, num pedaço de papel, escreveu: vale tanto – correspondente ao valor do produto – e assinou. O balconista, assustado, meio gaguejando, disse que não poderia receber daquela forma, ficou sem saber como tratar a situação. Correu para chamar Seu Abias e saber como proceder.
“Como vai, Lolô? Dona Maria vai bem?”, Chegou de mansinho
Seu Abias.
“É que ele não quer receber meu vale”, foi logo ao assunto, Lolô.
Paciente, o comerciante informa: “Olha, aqui nós fornecemos o vale só quando não temos troco para dar ao cliente”. E Lolô arrematou: “Vocês dão vale quando não têm troco, e eu dou quando não tenho dinheiro”. E agora? Bem que Lolô tentou”.



Antonio Novais Torres

Brumado, em 16/12/2012.