domingo, 13 de março de 2016

ALBINO VIANA


ALBINO VIANNA
*27/09/1891
†10/06/1981
            Rio de Contas, cidade baiana, localizada na região da Chapada Diamantina, foi a primeira cidade planejada do Brasil. O município preserva o traçado antigo, apresentando praças e ruas amplas, calçadas com pedras rústicas, igrejas barrocas, monumentos públicos e religiosos em pedra e casarios em adobe. Cidade histórica, celeiro de artesãos. É tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
             Nesse ambiente bucólico que, em 27 de setembro de 1891, nasce mais um artista: Albino Vianna, filho de Elyseo Rodrigues Vianna e Sergia da Silva Vianna, tendo como avós paternos Zeferino Rodrigues Vianna Fedegôso e Maria Magdalena de Miranda Vianna, e maternos, Antonio Mandinga da Silva e Anna da Silva Brito.
            Em Rio de Contas, onde viveu até a adolescência, Albino desenvolveu suas habilidades de artesão nato, revelando toda a sua criatividade, fruto da força de vontade que lhe era peculiar. Sr. Beninho, como era chamado pelos mais íntimos e queridos, era um autodidata. Estudou e pesquisou as ligas metálicas, processos indispensáveis na fabricação de peças para caçambas, peças para montaria − artefatos para animais − bridas, esporas, freios etc., entre outros.
            Estudioso, leitor interessado e curioso consertava relógios e dedicava-se à manufatura, recuperação e reforma de joias. Utilizava o ouro para realizar o engaste de pedras preciosas e semipreciosas, moldando-as e lapidando-as para a montagem final das peças. Como pessoa polivalente, confeccionava não só aliança, anéis e coroas dentárias, mas também peças feita sob encomenda e outros artigos de sua lavra e larga imaginação. Tudo isso realizado com ferramentas e equipamentos diversos, muitos deles de sua própria invenção.
             Transformava o ouro de 24K (puro) em 20, l8 e 14 quilates, adicionando metais como prata, cobre, fundindo-os até chegarem ao quilate desejado. Usava uma solução ácida para classificar as peças que eram avaliadas de acordo com o seu grau de pureza. Através de um processo desenvolvido por ele mesmo, utilizava-se de uma solução para dar banho de ouro às joias, e nessa profissão, trabalhou por muito tempo. Tanto vendia como consertava esses objetos, portanto, era um artesão do ouro, um ourives.
            De Rio de Contas migrou-se para Caculé, onde conheceu Vitalina Novaes com quem se casou e teve quatro filhos: Jesuíno Vianna, hoje com 98 anos, José Vianna, Editth Vianna e Sizinio Vianna. Os três últimos já falecidos. Naquela cidade fez inúmeras amizades em todas as classes sociais. Por mérito e confiança em sua pessoa como homem sério, probo, honrado e conciliador, alçaram-no a delegado da cidade, cargo que exerceu com a dignidade que lhe era característica.
            Após o falecimento da esposa manteve um segundo e curto relacionamento com uma senhora de prenome Aristeia, oriunda de Taiobeiras (MG). Com a cunhada Jovina Novaes, já mãe de dois filhos com Aniceto Mafra de Azevedo: Otaviano Novaes Azevedo (Maroto) e Idalice Novaes Azevedo (ambos falecidos) deram início ao terceiro e último relacionamento. O casal se estabeleceu em Brumado e, desta relação nasceram mais seis filhos: Nelson Viana e Ivan Viana (falecidos), Moacyr Viana, Dalva Viana, Antônio Viana e Maria de Lourdes Viana.
            Um dos seus amigos, Dr. Crescêncio Silveira, apostando na sua inteligência e habilidade manual de artesão dedicado, convidou-o para ser dentista e protético, o que exigiu de seu ‘Beninho’ muito estudo e dedicação. A sua primeira incumbência foi fazer a prótese dentária da esposa do Dr. Crescêncio, trabalho que foi concluído com êxito e perfeição.
            Em 1930 montou seu primeiro consultório, anexo à sua residência, incentivado pelo Dr. Crescêncio Silveira, seu amigo e conselheiro. Nessa época não existia energia e o aparelho dos dentistas (brocas) ganhava movimento através de um pedal.
            A sua dedicação e perfeccionismo a tudo que fazia contribuíram para torna-lo um dentista prático e famoso. Nesta função, atendia toda a região, igualmente, fazia visitas em domicílio. Destaque-se que é tradição na família o exercício dessa profissão: o filho Sizinio Viana, o neto Francisco de Paula Bassini Viana, o genro Jonas e o enteado Otaviano Novaes Azevedo (seu Maroto). Este último, com o falecimento do pai biológico, veio morar com seu Beninho aos 17 anos, tornando-se um de seus discípulos. Seu Maroto trabalhou muitos anos como dentista prático na empresa Magnesita S.A. a qual o homenageou pelos serviços prestados.
            Seu Beninho enfrentou dificuldades no exercício da profissão depois da lei que proibiu o trabalho dos práticos e beneficiava o profissional com diploma universitário. Contudo, devido à sua credibilidade e competência, com que exercia o seu ofício, à sua mediunidade e a confiança da comunidade que acreditava no seu trabalho, continuou a exercer a sua atividade de dentista sem o empecilho daqueles que se achavam no direito de proibir, e que, legalmente, podiam fazê-lo.
Também em Bom Jesus dos Meiras, atual Brumado, fez muitas amizades em todas as classes sociais, tratando a todos com respeito, dignidade e educação, independente do nível social a que pertenciam. Daí a sua popularidade e reconhecimento dos seus valores pessoais e profissionais como artesão, dentista e protético prático. Apesar de não possuir diploma universitário tinha a experiência e a competência comprovada.
            Sua casa estava sempre repleta de pessoas, muitos de forasteiros, que vinham consultar-se com o médium, outros, a presenteá-lo em agradecimentos à cura alcançada. Era a casa do povo. “Dona Jovina era uma pessoa muito educada e cortês. Recebia a todos com distinção e amabilidade, virtudes e qualidades que a dignificavam” (Declarações do senhor Sebastião Meira Santos (seu Santos), que conheceu o casal).
           
            Era portador de muita força espiritual, que nem ele soube como adquiriu, mas afirmava que não nasceu com este dom, mas que passou a notá-lo a partir dos 38 anos de idade.
             Conta-se que, na época dos revoltosos, passagem da Coluna Prestes pela Bahia, o grupo infundia medo e temor às pessoas, sendo visto por elas como baderneiros criminosos. Fugindo desse conflito, partiu de sua casa levando a esposa Jovina e os seus filhos, montados em cavalos. Na tentativa de proteger sua família dos rebeldes, procurou refúgio atrás de uma árvore, ali permanecendo em silêncio, orando, pedindo a Deus para encobrir seus rastros, a fim de que não fossem encontrados. Naquele momento de oração profunda, um rebanho de carneiro passou por eles apagando a pista que haviam deixado e que seria facilmente identificada pelos revoltosos. Contam que, três destes pararam ao lado da árvore, mascaram tabaco e chegaram a cuspir na árvore, porém não viram a família que estava ali refugiada.
            O dom do espírita era impressionante, pois sua força mediúnica transcendia à normalidade. Em transe ou passagem espiritual, fazia adivinhações, localizava objetos roubados e até desaparecidos. Acalmava os loucos ou dementes, desesperados com sintomas de sofrimento físico ou espiritual com orações e imposição das mãos. Muitos chegavam amarrados e voltavam livres sem nenhuma aparência de anormalidade.
            Receitava remédios (mezinhas) para todo tipo de doença ou sofrimento, rezava, benzia e curava os que o procuravam para o alívio de sua dor, quer física ou espiritual. Todo esse procedimento era caritativo, uma missão à qual se submetia por devoção à causa, dia e noite, sem se queixar do horário em que era procurado.
            As reuniões que tratavam da fundação de um centro espírita em Brumado eram realizadas na casa do senhor Albino Vianna (Beninho). Médiuns de Vitoria da Conquista aqui vieram para incentivar a fundação do centro espírita e pondo em prática trabalhos mediúnicos concernentes a essa doutrina. Em 31 de janeiro de 1954, seu Beninho, juntamente com seu Albertino Marques Barreto e outros adeptos da doutrina, fundou o Centro Espírita Fraternidade (CEF), sendo eleito presidente o senhor Albertino Marques Barreto e vice-presidente, Albino Viana (Beninho). Em vista da falta de um local para realização das reuniões, Albino colocou a sua residência à disposição dos confrades, que aceitaram a título provisório.
            Seu Beninho era míope e não usava óculos. Assim, só enxergava com clareza à pequena distância. Narra-se que as pessoas que vinham em busca de socorro, à noite, encontrando as portas e janelas fechadas, batiam palmas para alguém atender. Seu Beninho abria a porta para recebê-las, mas sendo míope, se aproximava para reconhecê-las.
             Naquela época os animais viviam soltos nas ruas, não havia controle nem captura por parte das autoridades locais.
            Certa noite, um jumento, perambulando, parou em frente à casa de seu Beninho, cuja porta era pintada de verde, talvez por confundi-la com uma árvore. Para espantar os mosquitos que o atormentavam, o animal sacudiu as grandes orelhas, produzindo um som semelhante ao das palmas humana. Seu Beninho abriu a porta e, por enxergar pouco e, ainda estar no escuro da noite, aproximou-se e perguntou: “Qual é o seu incômodo, irmão?” Em resposta, O jegue relinchou deixando seu Beninho apavorado pelo inusitado.
            Em reconhecimento aos serviços prestados à comunidade brumadense, a Câmara de Vereadores de Brumado o homenageou, dando seu nome a um logradouro no centro da cidade.
            A Assembleia Legislativa do Estado da Bahia por meio do Dec. 16579/2007 de 23/08/2007 declara de Utilidade a Sociedade Espírita Albino Viana - SEAV, sediada na Travessa Enoc nº 79 no Município de Brumado.
            Através da Lei/1497/2007, de 21 de setembro de 2007 a prefeitura Municipal de Brumado considera de Utilidade Pública a instituição Sociedade Espírita Albino Vianna (SEAV), fundada em 1º de junho de 1994.

            Fontes: Luiz Ribeiro Viana, Gileno Mafra, Sebastião Meira Santos (seu Santos), Lutgardes Ribeiro S. Meira, Maria Helena Viana Carneiro e pessoas que colaboraram com a pesquisa.
Antonio Novais Torres
Brumado em 19/07/2012.

                       


Nenhum comentário:

Postar um comentário