ALBINO VIANNA
*27/09/1891
†10/06/1981
Rio de Contas, cidade baiana,
localizada na região da Chapada Diamantina, foi a primeira cidade planejada do
Brasil. O município preserva o traçado antigo, apresentando praças e ruas
amplas, calçadas com pedras rústicas, igrejas barrocas, monumentos públicos e
religiosos em pedra e casarios em adobe. Cidade histórica, celeiro de artesãos.
É tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Nesse ambiente bucólico que, em 27 de setembro
de 1891, nasce mais um artista: Albino
Vianna, filho de Elyseo Rodrigues Vianna e Sergia da Silva Vianna, tendo
como avós paternos Zeferino Rodrigues Vianna Fedegôso e Maria Magdalena de
Miranda Vianna, e maternos, Antonio Mandinga da Silva e Anna da Silva Brito.
Em Rio de Contas, onde viveu até a
adolescência, Albino desenvolveu suas habilidades de artesão nato, revelando toda
a sua criatividade, fruto da força de vontade que lhe era peculiar. Sr.
Beninho, como era chamado pelos mais íntimos e queridos, era um autodidata.
Estudou e pesquisou as ligas metálicas, processos indispensáveis na fabricação
de peças para caçambas, peças para montaria − artefatos para animais − bridas,
esporas, freios etc., entre outros.
Estudioso, leitor interessado e curioso
consertava relógios e dedicava-se à manufatura, recuperação e reforma de joias.
Utilizava o ouro para realizar o engaste de pedras preciosas e semipreciosas, moldando-as
e lapidando-as para a montagem final das peças. Como pessoa polivalente, confeccionava
não só aliança, anéis e coroas dentárias, mas também peças feita sob encomenda
e outros artigos de sua lavra e larga imaginação. Tudo isso realizado com
ferramentas e equipamentos diversos, muitos deles de sua própria invenção.
Transformava o ouro de 24K (puro) em 20, l8 e
14 quilates, adicionando metais como prata, cobre, fundindo-os até chegarem ao
quilate desejado. Usava uma solução ácida para classificar as peças que eram
avaliadas de acordo com o seu grau de pureza. Através de um processo desenvolvido
por ele mesmo, utilizava-se de uma solução para dar banho de ouro às joias, e
nessa profissão, trabalhou por muito tempo. Tanto vendia como consertava esses
objetos, portanto, era um artesão do ouro, um ourives.
De Rio de Contas migrou-se para
Caculé, onde conheceu Vitalina Novaes com quem se casou e teve quatro filhos: Jesuíno
Vianna, hoje com 98 anos, José Vianna, Editth Vianna e Sizinio Vianna. Os três
últimos já falecidos. Naquela cidade fez inúmeras amizades em todas as classes
sociais. Por mérito e confiança em sua pessoa como homem sério, probo, honrado e
conciliador, alçaram-no a delegado da cidade, cargo que exerceu com a dignidade
que lhe era característica.
Após o falecimento da esposa manteve
um segundo e curto relacionamento com uma senhora de prenome Aristeia, oriunda
de Taiobeiras (MG). Com a cunhada Jovina Novaes, já mãe de dois filhos com
Aniceto Mafra de Azevedo: Otaviano Novaes Azevedo (Maroto) e Idalice Novaes
Azevedo (ambos falecidos) deram início ao terceiro e último relacionamento. O casal
se estabeleceu em Brumado e, desta relação nasceram mais seis filhos: Nelson
Viana e Ivan Viana (falecidos), Moacyr Viana, Dalva Viana, Antônio Viana e
Maria de Lourdes Viana.
Um dos seus amigos, Dr. Crescêncio
Silveira, apostando na sua inteligência e habilidade manual de artesão
dedicado, convidou-o para ser dentista e protético, o que exigiu de seu ‘Beninho’
muito estudo e dedicação. A sua primeira incumbência foi fazer a prótese
dentária da esposa do Dr. Crescêncio, trabalho que foi concluído com êxito e perfeição.
Em 1930 montou seu primeiro
consultório, anexo à sua residência, incentivado pelo Dr. Crescêncio Silveira,
seu amigo e conselheiro. Nessa época não existia energia e o aparelho dos
dentistas (brocas) ganhava movimento através de um pedal.
A sua dedicação e perfeccionismo a tudo
que fazia contribuíram para torna-lo um dentista prático e famoso. Nesta
função, atendia toda a região, igualmente, fazia visitas em domicílio.
Destaque-se que é tradição na família o exercício dessa profissão: o filho
Sizinio Viana, o neto Francisco de Paula Bassini Viana, o genro Jonas e o
enteado Otaviano Novaes Azevedo (seu Maroto). Este último, com o falecimento do
pai biológico, veio morar com seu Beninho aos 17 anos, tornando-se um de seus
discípulos. Seu Maroto trabalhou muitos anos como dentista prático na empresa Magnesita
S.A. a qual o homenageou pelos serviços prestados.
Seu Beninho enfrentou dificuldades
no exercício da profissão depois da lei que proibiu o trabalho dos práticos e
beneficiava o profissional com diploma universitário. Contudo, devido à sua credibilidade
e competência, com que exercia o seu ofício, à sua mediunidade e a confiança da
comunidade que acreditava no seu trabalho, continuou a exercer a sua atividade
de dentista sem o empecilho daqueles que se achavam no direito de proibir, e
que, legalmente, podiam fazê-lo.
Também em Bom
Jesus dos Meiras, atual Brumado, fez muitas amizades em todas as classes
sociais, tratando a todos com respeito, dignidade e educação, independente do
nível social a que pertenciam. Daí a sua popularidade e reconhecimento dos seus
valores pessoais e profissionais como artesão, dentista e protético prático.
Apesar de não possuir diploma universitário tinha a experiência e a competência
comprovada.
Sua casa estava sempre repleta de
pessoas, muitos de forasteiros, que vinham consultar-se com o médium, outros, a
presenteá-lo em agradecimentos à cura alcançada. Era a casa do povo. “Dona
Jovina era uma pessoa muito educada e cortês. Recebia a todos com distinção e amabilidade,
virtudes e qualidades que a dignificavam” (Declarações do senhor Sebastião
Meira Santos (seu Santos), que conheceu o casal).
Era portador de muita força
espiritual, que nem ele soube como adquiriu, mas afirmava que não nasceu com
este dom, mas que passou a notá-lo a partir dos 38 anos de idade.
Conta-se que, na época dos revoltosos,
passagem da Coluna Prestes pela Bahia, o grupo infundia medo e temor às
pessoas, sendo visto por elas como baderneiros criminosos. Fugindo desse
conflito, partiu de sua casa levando a esposa Jovina e os seus filhos, montados
em cavalos. Na tentativa de proteger sua família dos rebeldes, procurou refúgio
atrás de uma árvore, ali permanecendo em silêncio, orando, pedindo a Deus para encobrir
seus rastros, a fim de que não fossem encontrados. Naquele momento de oração
profunda, um rebanho de carneiro passou por eles apagando a pista que haviam
deixado e que seria facilmente identificada pelos revoltosos. Contam que, três
destes pararam ao lado da árvore, mascaram tabaco e chegaram a cuspir na árvore,
porém não viram a família que estava ali refugiada.
O dom do espírita era
impressionante, pois sua força mediúnica transcendia à normalidade. Em transe
ou passagem espiritual, fazia adivinhações, localizava objetos roubados e até desaparecidos.
Acalmava os loucos ou dementes, desesperados com sintomas de sofrimento físico
ou espiritual com orações e imposição das mãos. Muitos chegavam amarrados e
voltavam livres sem nenhuma aparência de anormalidade.
Receitava remédios (mezinhas) para
todo tipo de doença ou sofrimento, rezava, benzia e curava os que o procuravam
para o alívio de sua dor, quer física ou espiritual. Todo esse procedimento era
caritativo, uma missão à qual se submetia por devoção à causa, dia e noite, sem
se queixar do horário em que era procurado.
As reuniões que tratavam da fundação
de um centro espírita em Brumado eram realizadas na casa do senhor Albino
Vianna (Beninho). Médiuns de Vitoria da Conquista aqui vieram para incentivar a
fundação do centro espírita e pondo em prática trabalhos mediúnicos
concernentes a essa doutrina. Em 31 de janeiro de 1954, seu Beninho, juntamente
com seu Albertino Marques Barreto e outros adeptos da doutrina, fundou o Centro
Espírita Fraternidade (CEF), sendo eleito presidente o senhor Albertino Marques
Barreto e vice-presidente, Albino Viana (Beninho). Em vista da falta de um
local para realização das reuniões, Albino colocou a sua residência à
disposição dos confrades, que aceitaram a título provisório.
Seu Beninho era míope e não usava
óculos. Assim, só enxergava com clareza à pequena distância. Narra-se que as
pessoas que vinham em busca de socorro, à noite, encontrando as portas e janelas
fechadas, batiam palmas para alguém atender. Seu Beninho abria a porta para
recebê-las, mas sendo míope, se aproximava para reconhecê-las.
Naquela época os animais viviam soltos nas ruas,
não havia controle nem captura por parte das autoridades locais.
Certa noite, um jumento,
perambulando, parou em frente à casa de seu Beninho, cuja porta era pintada de
verde, talvez por confundi-la com uma árvore. Para espantar os mosquitos que o
atormentavam, o animal sacudiu as grandes orelhas, produzindo um som semelhante
ao das palmas humana. Seu Beninho abriu a porta e, por enxergar pouco e, ainda
estar no escuro da noite, aproximou-se e perguntou: “Qual é o seu incômodo,
irmão?” Em resposta, O jegue relinchou deixando seu Beninho apavorado pelo
inusitado.
Em reconhecimento aos serviços
prestados à comunidade brumadense, a Câmara de Vereadores de Brumado o
homenageou, dando seu nome a um logradouro no centro da cidade.
A Assembleia Legislativa do Estado
da Bahia por meio do Dec. 16579/2007 de 23/08/2007 declara de Utilidade a
Sociedade Espírita Albino Viana - SEAV, sediada na Travessa Enoc nº 79 no
Município de Brumado.
Através da Lei/1497/2007, de 21 de
setembro de 2007 a prefeitura Municipal de Brumado considera de Utilidade
Pública a instituição Sociedade Espírita Albino Vianna (SEAV), fundada em 1º de
junho de 1994.
Fontes: Luiz Ribeiro Viana, Gileno
Mafra, Sebastião Meira Santos (seu Santos), Lutgardes Ribeiro S. Meira, Maria
Helena Viana Carneiro e pessoas que colaboraram com a pesquisa.
Antonio Novais
Torres
Brumado em 19/07/2012.